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A crise anunciada

Em recente reunião promovida pelo Departamento de Infra-estrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, asseverou que não faltará gás natural para as indústrias e a geração elétrica. Na ocasião, esclareceu o plano estratégico da estatal para o próximo qüinqüênio, com a entrega do gás natural, prioritariamente, para as usinas térmicas. Desta forma, o volume destinado às térmicas alcançará em torno de 46 milhões de m³ diários, sendo que nos dias atuais totaliza 10 milhões.

O gás natural é um insumo básico, a fim de evitar o próximo desabastecimento elétrico, previsto para 2008/2009 ou antes se o crescimento econômico superar 5% ao ano, como todos nós almejamos.

Para o principal dirigente da Petrobrás, serão efetuados investimentos superiores a US$ 6 bilhões no setor do gás natural, no período de 2006/10, a fim de garantir a regularidade do fornecimento às indústrias e às térmicas. Da vizinha Bolívia, serão importados 30% ou 40% dos 100 milhões de metros cúbicos, que o Brasil deverá consumir em 2010. Adicionalmente, poderão ser aproveitados 12 milhões de metros cúbicos diários da bacia santista, a partir de 2008.

Nos últimos 4 anos, nenhuma nova usina hidroelétrica iniciou a sua operação no País, embora exista, ainda, um potencial hídrico considerável a ser aproveitado.

Instaura-se, desta forma, uma verdadeira corrida contra o tempo, para que seja assegurada a eletricidade indispensável ao crescimento sustentado. Ademais, a construção de uma usina térmica demora mais de quatro anos, e as hidroelétricas tempo superior, na dependência, ainda, das decantadas licenças ambientais. É preciso, igualmente, a ampliação do gasoduto boliviano diante do crescimento da importação.

Quanto às demais fontes (bagaço, solar, ventos e pequenas hidroelétricas) falta, ainda, a maior disposição governamental para a sua implantação.

Existem sérios entraves, entre eles o corporativismo estatal e a falta de financiamentos do BNDES, para a inclusão das energias limpas, ecologias e renováveis. Persiste um forte lobby da indústria do petróleo, embora o álcool da cana já seja competitivo com o petróleo, principalmente quando alcança US$ 60 por barril, como sucede nos dias atuais.

A indústria sucroalcooleira paulista, por exemplo, poderá ofertar, no curto prazo, em torno de 5 mil MW, com o emprego de tecnologia convencional e equipamentos produzidos no interior do nosso estado. Certamente, o custo de operação ficará mais baixo do que as térmicas movidas a gás natural boliviano, eólicas ou óleo diesel, derivado que a Petrobrás já passou a importar, diante da exaustão das nossas refinarias, além de custas quatro ou cinco vezes mais do que o gás natural. O pensamento, hoje, é transformar as indústrias sucroalcooleiras em complexos energéticos, que possam produzir álcool, açúcar, eletricidade, ração animal e fertilizante.

Até agora, São Pedro continua condescendente, permitindo que os reservatórios das hidroelétricas permaneçam nos níveis indispensáveis. Muitos aproveitamentos de média potência foram desprogramados e pequenas usinas, desativadas.

Em recente entrevista, o conceituado industrial Antônio Ermírio de Moraes afirmou que o Brasil necessita construir uma nova usina hidroelétrica, semelhante à de Tucuruí, a cada ano, a fim de evitar novos apagões. Para a nossa felicidade, o Brasil foi obsequiado pela providência com um rico sistema hídrico, que nos assegura água para o consumo familiar, o das indústrias e a produção elétrica. Falta-nos a adoção de uma firme política energética, assegurar justa remuneração aos investidores e aprovação de marcos regulatórios, sem o que não atrairemos os investimentos. Aliás, se não temos os recursos do tesouro, por que o governo promove uma nova reestatização do setor elétrico? Com efeito, o governo não pode mais eximir-se da grande parcela de responsabilidade pela nova e anunciada crise elétrica, pois é sua função planejar e coordenar a expansão da infra-estrutura, tarefa que não cabe à iniciativa privada. Embora se deva reconhecer que não será um trabalho fácil, diante das sucessivas crises políticas que atingiram o Brasil.

O autor é diretor da Divisão de Energia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), presidente executivo do Centro de Integração Empresa Escoal (CIEE) e presidente da Academia Paulista de História

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