Em novembro próximo, o Proálcool completará 30 anos. O presidente Ernesto Geisel assinou decreto, em 1975, que criou incentivos para construção de um parque de novas destilarias. A decisão resultou da primeira crise mundial de petróleo, de 1973, responsável pelo crescimento exponencial da dívida externa brasileira. Apesar de o álcool já ter sido utilizado no Brasil em 1925, apenas meio século depois houve esforço tecnológico por parte do Centro Técnico Aeroespacial. Um grupo de jovens engenheiros, comandados pelo professor Urbano Stumpf, desenvolveu os primeiros motores eficientes. Em novembro de 1976, um Dodge 1800, um Fusca 1300 e um Gurgel 1600 realizaram a Caravana do Proálcool, de São Paulo a Manaus.
As fábricas também começaram a produzir os primeiros protótipos para serem testados em frotas governamentais. Em 1979, a segunda crise do petróleo precipitou o lançamento do carro a álcool ao público, mas os problemas técnicos só foram resolvidos em 1981. Apenas quatro anos depois, 96% dos automóveis vendidos no País já utilizavam o combustível renovável. Em 1989, a escassez do álcool no Centro-Sul fez derrubar , no ano seguinte, para 13% a participação do carro com este combustível. O mercado, no entanto, pareceu absorver o baque, pois em 1992 a participação havia subido novamente para 29%. O advento do carro “popular” em 1993 foi o golpe de morte. À indústria não interessava desenvolver motores de 1.000 cm³ a álcool e sim fazer o que estava disponível, só a gasolina.
Ainda em 1994, a Bosch começou a experiência com o primeiro motor flexível no uso de álcool e gasolina, num Omega. A tecnologia era cara e foi abandonada, voltando à luz apenas em 2002. O Gol, em março de 2003, iniciou a arrancada dos carros flex. Dois anos e meio depois, a participação em toda a indústria chega ao pico de 60% e deve alcançar mais de 70%, na média, em 2006. O motor flex, por enquanto, vem prejudicando o potencial de desempenho e consumo de álcool. Mas é uma solução inteligente por fomentar a competição entre os combustíveis. Se a gasolina subisse muito de preço, haveria uma nova corrida ao combustível vegetal e sacrificaria quem possuísse motores a álcool puro.
Novos tempos trazem dúvidas e o consumidor está aprendendo que, hoje, o consumo de dinheiro importa mais que o consumo de combustível. Gasta-se mais em litros, mas se alivia o bolso no final do mês, onde rodam dois terços da frota brasileira. O outro terço deve usar só gasolina. A mistura meio-a-meio nem deve ser considerada, mas só por motivos econômicos.
O verdadeiro risco é a adição de água comum ao álcool. O hidratado, na forma natural, não causa problemas. Para driblar o densímetro nas bombas, fraudadores compram álcool anidro (sem água), que só recebe imposto ao ser misturado oficialmente à gasolina, e ganham no volume e na sonegação. Para evitar a falcatrua, o álcool anidro passará a ter corante, mas a solução correta seria a reformulação tributária ou tratar os desonestos como caso de polícia.
RODA VIVA
VOLKSWAGEN quebrou a tradição de convivência de duas gerações ao lançar o Gol 2006. Até desistiu de brigar na faixa de entrada, em que o Mille, na realidade, é o único representante. As mudanças externas atualizaram o modelo e até melhoraram a visibilidade com a ampliação do óculo traseiro. O interior ficou mais “arejado”, passando sensação melhor, embora os materiais permaneçam típicos de um carro com preço de combate.
MEXER num produto que fará 19 anos na liderança levou bastante cautela à fábrica. Tanto que o objetivo é apenas manter sua participação atual de mercado. Se fosse de aumentar as vendas, teria uma política de preço mais ousada. Parece que optou por abrir mais espaço ao Fox. Dentro de um mês, Saveiro e Parati adotarão mesmas alterações.