O Copom decidiu deixar os juros nos 19,75% ao ano. É melhor tratar do que está acontecendo no setor produtivo da economia, desta vez na agricultura, onde também está havendo uma repetição. Num certo sentido, a agricultura está repetindo o governo Lula. Teve dois primeiros anos bons, um terceiro ruim e o quarto poderia chamar-se “sabe-se lá”, de tão repleto que está de incertezas. O IBGE mostrou que a agroindústria (já se vê que não é só a agricultura) cresceu apenas 0,3% no primeiro semestre de 2005 ante igual período de 2004. Com isso, a renda dos agricultores aponta para apior dos últimos cinco anos. Por aí, já dá para se ter idéia de como vai o ânimo do setor às vésperas do plantio de primavera que, em princípio, só está esperando as primeiras chuvas para começar. Como estão todos assustados, estão também prontos a cortar custos, nem sempre onde seria melhor. A disposição de aplicar insumos agrícolas vai sendo quebrada. “Eles estão adiando as compras de adubos, calcário, máquinas e sementes”, observa Glauco Carvalho, consultor da MB Associados. Quem puder vai racionalizar quanto for possível na aplicação de fertilizantes em áreas que já estejam em condições de plantio.Aalta do petróleo, base para a produção de nitrogenados, é apenas um fator a mais que força os produtores a reduzir seu uso. A safra 2005/2006 tem tudo para empregar menos tecnologia do que as anteriores. Os fornecedores já estão sentindo as conseqüências. O presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Macel Caixeta, se queixa de que as vendas vão mal: “O produtor entende que não pode correr riscos.” No primeiro semestre deste ano a produção de fertilizantes foi 14,5% menor que a do mesmo período de 2004. Esse corte de custos já produziu um efeito: diminuição da área a ser plantada. Os mais ousados, que nos anos anteriores entraram de cabeça somente porque os preços estavam favoráveis, deixarão a agricultura dela do ou arrendarão terra para plantar cana-de-açúcar. Esta é uma das poucas culturas que ainda vão bem. Outra é o café. A tendência dos agricultores profissionais é de ocupar apenas parte da terra. Números da FNP Consultoria indicam que a área plantada desoja, por exemplo, deverá diminuir cerca de 7%. A Companhia Nacional de Abastecimento ( Conab) ainda não tem levantamentos sobre a safra. Mas há os números dos especialistas. Por paradoxal que possa parecer, eles não esperam que da significativa da produção. É o que afirma o analista Daniel Dias, da FNP: “Quando diminui a área de plantação, a tendência é concentrá-la nas terras de melhor qualidade, o que garante aumento da produtividade.” Há quem esbanje mais otimismo, como Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria. Ela acredita até em novo recorde de produção – desde que o clima seja favorável. “É claro que assim estaremos contando com a Providência divina, mas a probabilidade de que ocorra é alta.” Mas quem olha em volta não se entusiasma. A agricultura vive um agosto atípico, marcado pela inadimplência. Um pouco disso tem a ver com a quebra de renda e, outro pouco, com a política: um governo mais fraco, como o de agora, sempre está mais vulnerável. Nessas condições, a inadimplência ajuda a pressionar. O governo também está demorando para anunciar seu Plano de Safra, o que aumenta a indefinição. “O correto é planejar uma safra assim que termina a anterior”, alerta Lineu Domit, pesquisador da área de transferência de tecnologia da Embrapa. O atraso no planejamento do plantio de primavera tende a aumentar os riscos. E há ainda a questão do preço, variável sempre incerta. De todo modo, em algumas commodities, as cotações podem ter caído, mas continuam prometendo, uma vez que a China e seus vizinhos continuam famintos de alimentos e matérias- primas. E quem está nessa vida reclama de tudo, mas não desiste. É só começar o tempo das chuvas.