O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega a Paris na madrugada desta quarta-feira, para uma visita oficial de três dias à França, em meio à mais grave crise política de seu governo.
Sem ter conseguido concluir, no Brasil, uma reforma ministerial destinada a estabilizar a base política e ampliar a face não-partidária do governo, Lula será o convidado de honra nas celebrações do 14 de Julho, feriado nacional e dia da queda da Bastilha.
A programação do “Ano do Brasil na França” foi elaborada para celebrar as relações bilaterais entre os países. Ao mesmo tempo o Fórum Franco-Brasileiro da Sociedade Civil discute avanços do governo Lula nas políticas públicas.
O momento de crise –pelo qual também passa o governo francês– tranformou a festa franco-brasileira num teste de equilíbrio, analisa uma fonte do Planalto.
O roteiro divulgado pelo Itamaraty combina oportunidades de negócios e de incidentes, de sucessos e fracassos, em quantidades iguais.
O programa de Lula inclui o diálogo com empresários e intelectuais, com organizações não-governamentais e políticos em dificuldades. Inclui também a música de Gilberto Gil e aviões franceses de segunda mão que o Brasil deve comprar, tecnologia nuclear e biodiesel, baile popular e desfile de tropas.
“É um desafio para qualquer presidente em situação normal, ainda mais difícil numa conjuntura de crise de confiança em relação aos dirigentes dos dois países”, comentou uma fonte diplomática.
PESQUISAS SURPREENDEM
Lula deixou o Brasil pouco depois da divulgação de uma pesquisa CNT/Sensus, mostrando que a avaliação do desempenho pessoal do presidente subiu de 57,4 para 59,9, surpreeendendo analistas e animando o mercado.
Coincidentemente, o jornal francês de esquerda “Liberátion” publicou pesquisa apontando aumento de 26 por cento para 30 por cento nas avaliação do desempenho do presidente Jacques Chirac.
Chirac e seu partido, União para o Movimento Popular (UMP), estão envolvidos em investigacões sobre desvios, de forma análoga a acusações feitas no Brasil ao PT e ao governo federal.
A movimentação favorável a Chirac na pesquisa (Barômetro Louis-Harris-Yahoo) também surpreendeu o “Liberátion”.
COMITIVA DESIDRATADA
De forma inédita em visitas com esse perfil, os parlamentares brasileiros foram excluídos da comitiva oficial, inclusive o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). O ministro Jaques Wagner, titular da nova secretarial que inclui o “Conselhão” e parte da Coordenação Política, também teve de ficar no Brasil.
Cinco ministros ficarão com Lula e dona Mariza na residência oficial de Marigny, hospedados pelo governo francês.
Embarcaram com Lula, por volta das 15 h, os ministros Luiz Dulci (Secretaria-Geral) e Tarso Genro (Educação), novo presidente do PT.
Antes de embarcar, Tarso anunciou que será sucedido no ministério pelo secretário-executivo Fernando Haddad, mas o porta-voz André Singer não confirmou a informação.
Em Paris juntam-se à comitiva Celso Amorim (Relações Exteriores), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Gilberto Gil (Cultura).
A chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, chega na quinta-feira. Ela participou de negociações comerciais com os franceses quando era ministra de Minas e Energia.
O governador do Amapá, Antonio Valdez, vem para a assinatura de acordo sobre a construção de uma ponte sobre o rio Oiapoque.
COMÉRCIO E TECNOLOGIA
Brasil e França devem assinar acordos nas áreas comercial (biodiesel e energia limpa), militar (aquisição de 12 jatos Mirage recondicionados) de cooperação tecnológica (nuclear e de nanotecnologia) e de integração física (fronteira Brasil-Guiana).
Já nesta quarta-feira Lula falará a intelectuais na Sorbonne, a empresários franceses e brasileiros, em almoço de trabalho no parque Bois de Bologne, e a organizações da sociedade civil da França e do Brasil, no encerramento de um fórum sobre políticas públicas.
À noite, o presidente brasileiro e o prefeito de Paris, Bertrand Delanoe, abrem o tradicional Baile da Cidade, na Praça da Bastilha. Este ano, em homenagem ao Brasil, as estrelas do baile são Gilberto Gil e Daniela Mercury.
FUMAÇA NO CÉU DE PARIS
Lula estará com Chirac na tribuna de honra do desfile militar de 14 de Julho, quinta-feira de manhã. O desfile deste ano terá participação brasileira com um destacamento de cadetes da Academia Militar de Agulhas Negras (Exército) e a banda dos Fuzileiros Navais (Marinha). A Esquadrilha da Fumaça (Aeronáutica) fará evoluções no céu de Paris.
Lula estará novamente com o prefeito Delanoe à noite, na queima de fogos na Bastilha, depois de participar da recepção, também tradicional, para seis mil convidados no Palácio do Eliseu, de visitar a exposição de arte brasileira e de receber prefeitos de cidades francesas que cooperam com municípios do Brasil.
Na sexta-feira o presidente Lula reúne-se pela manhã com o primeiro-ministro Dominique Villepin, e em seguida com o presidente Chirac, para assinatura de acordos e almoço oficial.
Antes de embarcar de volta ao Brasil, na sexta-feira à tarde, Lula conhecerá uma réplica do 14-Bis, o avião pioneiro de Alberto Santos-Dumont, no Museu do Ar e do Espaço, em Le Bourget.