O presidente George W. Bush afirmou ontem que os Estados Unidos estão preparados para, junto com a União Européia, abolir os subsídios agrícolas até 2010. Autoridades da UE, entretanto, reagiram com ceticismo.
“Queremos trabalhar com a UE para nos livrar de nossos subsídios agrícolas em conjunto”, disse Bush no encontro de líderes do G-8 (sete países mais ricos do mundo, mais a Rússia) na Escócia, do qual participam ainda líderes de seis países emergentes: Brasil, China, Índia, Rússia, África do Sul e México. “Espero que até 2010 a Rodada Doha atinja seus objetivos”, completou.
Uma declaração sobre o tema deve constar do texto final da cúpula do G-8, ainda que algumas autoridades a julguem só retórica.
O comissário de Comércio da UE e principal negociador comercial do bloco, Peter Mandelson, disse que era hora de todos começarem a pensar seriamente em chegar a um acordo sobre as negociações da Rodada Doha. Sua porta-voz afirmou que 2010 parece uma data pouco realista para acabar com os subsídios. A Política Agrícola Comum (PAC) européia prevê manter o nível de gasto atual com subsídio agrícola até 2012.
O ministro da Agricultura da França, Dominique Bussereau, defendeu a atual política agrícola da UE, que consome mais de 40% do orçamento do bloco.
Segundo os cálculos da ONG Oxfam, o subsídio aos agricultores dos EUA os ajuda a exportar algodão e trigo a um preço de 35% a 47% abaixo do custo de produção; os exportadores de carne e açúcar conseguiriam descontos ainda mais expressivos, de 44% a 47%.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirma que a UE gasta US$ 133 bilhões/ano em apoio agrícola (isso incluiria a ajuda dos governos nacionais), contra cerca de US$ 47 bilhões dos EUA.
A porta-voz de Mandelson disse em Bruxelas que as propostas americanas são bem-vindas, mas que o prazo de cinco anos não é realista. “Já dissemos que 2010 não seria factível, mas também que dez anos seria tempo demais.”
A proposta de Bush gerou confusão nos EUA. Autoridades disseram que o presidente realmente falou sobre o fim de todo auxílio agrícola, não só dos subsídios para exportação. O secretário de Agricultura dos EUA alertou que haverá menos dinheiro para os subsídios agrícolas. “Todos os programas em Washington estão sentindo as pressões do Orçamento”.
Legisladores também esperam mudanças no programa agrícola do país. Os produtores de grãos e de algodão recebem a maior parte dos subsídios, embora representem uma minoria entre os 2 milhões de agricultores americanos.
O diretor-geral da OMC, Supachai Panitchpakdi, chamou de boa notícia que os líderes do G-8 reforcem o comprometimento com a Rodada Doha. “Precisamos que os líderes façam um forte anúncio de comprometimento para finalizarmos a rodada em 2006.”