O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem que vai trabalhar com o Japão para avançar em seu projeto comum de ocupar cadeiras permanentes no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e Tóquio deve consolidar a aliança com uma generosa ajuda financeira.
Lula começou ontem uma visita de três dias ao Japão, em um momento em que o país tem que defender sua entrada no Conselho de Segurança da ONU dos esforços da China para bloquear o desejo de Tóquio. ´É necessário reformar a ONU e torná-la mais eficiente e representativa´, declarou Lula diante do Parlamento nipônico. ´O statu quo não favorece à legitimidade do Conselho de Segurança´, acrescentou. ´É natural que o Japão e Brasil se apóiem mutuamente na ONU´.
O Japão luta em conjunto com o Brasil, Alemanha e Índia para obter um posto permanente no Conselho de Segurança, instância em que apenas China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia têm direito de veto atualmente. Lula também disse ao Parlamento que apóia os esforços para resolver a crise na Coréia do Norte feitos pelo primeiro-ministro Junichiro Koizumi, que é criticado no Japão como demasiado indulgente com o Estado comunista.
´Pode-se buscar a paz regional através do diálogo e compromissos construtivos´, disse Lula. Em um comunicado conjunto, os chefes de governo brasileiro e japonês disseram que ´trabalharão energicamente´ por um marco para a reforma da ONU em meados deste ano, um prazo que os Estados Unidos consideram pouco realista. Conscientes das dificuldades, os dois países pediram o máximo de flexibilidade das propostas, ´para conseguir a maior base de apoio possível´. Os dois líderes ´compartilham a visão de que o Conselho de Segurança deve ser reformado para aumentar sua representatividade, eficácia e credibilidade, para que reflita a realidade da comunidade internacional no século XXI´, afirmou o comunicado.
Koizumi visitou o Brasil em setembro de 2004 e discutiu com Lula o tema do Conselho de Segurança. A seu desejo se somaram Índia, que o líder japonês visitou no mês passado, e Alemanha, cujo chanceler Gerhard Schroeder foi a Tóquio em dezembro.
A China acredita que o Japão deve fazer mais para compensar suas agressões bélicas antes de poder entrar no Conselho Segurança. O Japão se defende afirmando que é pacifista e um doador generoso, já que concede mais fundos à ONU que qualquer outro país, exceto os Estados Unidos.
Durante a visita de Lula, Tóquio deve anunciar uma generosa ajuda financeira. Trata-se de um empréstimo a taxas reduzidas de 1,7 bilhão de dólares para financiar projetos petroleiros no Brasil, segundo o jornal Nikkei. A transação deve render dividendos ao Japão, que depende 80% do Oriente Médio para seu abastecimento em petróleo. Lula, por sua vez, deve defender a utilização do etanol (álcool com base na cana-de-açúcar) como combustível ecológico.
Em um momento em que o preço elevado do petróleo coloca em pauta novamente o problema das energias renováveis, o Brasil, maior produtor mundial de cana-de-açúcar, aposta em um ambicioso plano de desenvolvimento do etanol com um aumento na produção de 55% até 2010. O presidente brasileiro está acompanhado por uma importante delegação que inclui os principais ministros do setor econômico (Economia, Indústria e Comércio Exterior, Agricultura, Minas e energia, assim como o presidente do Banco Central) e cerca de 250 empresários.
Lula foi recebido ontem em audiência pelo imperador Akihito e a imperatriz Michiko. O presidente brasileiro visitará amanhã a exposição universal de Aichi, perto de Nagóia (centro), reduto da indústria japonesa, onde uma importante comunidade nipo-brasileira trabalha.
Entre o Japão e o Brasil existem vínculos antigos e os brasileiros fazem uma das principais comunidades estrangeiras no arquipélago japonês. Em suas negociações, Lula e Koizumi estudarão maneiras de integrar quase 275 mil brasileiros, a maioria de origem japonesa, mas com poucos conhecimentos da língua oficial, que estão registrados no Japão, segundo número do Ministério da Justiça japonês (dezembro de 2003).