Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar-PE, entidade representativa do setor sucroenergético em Pernambuco, é uma liderança setorial da região Nordeste do país.
Em entrevista ao Portal JornalCana, Cunha comenta 10 avaliações sobre a safra de cana-de-açúcar 2016/17 nos estados canavieiros nordestinos e também faz observações sobre a recente onda de importação de etanol anidro, que ocupou os tanques de Pernambuco, e criou uma concorrência com o etanol brasileiro.
Sobre o caso da importação do biocombustível, o presidente do Sindaçúcar-PE detalha uma medida do governo estadual para conter a compra de etanol principalmente dos Estados Unidos.
Como está o caso das importações de etanol?
Renato Cunha – De forma pontual, em Pernambuco, onde o Porto Suape tem grande infraestrutura logística, para granéis líquidos, a rigor o governador do estado, Paulo Câmara, fechou a janela de importação. Ou seja, quem importar etanol por Suape no período da safra [em média entre setembro/2016 a março/2017] terá de pagar ICMS de forma antecipada. É uma medida acertada, para não haver concorrência desleal.
Qual é a incidência do ICMS sobre o etanol?
Renato Cunha – 23%
A medida significa uma vitória para o setor sucroenergético brasileiro?
Renato Cunha – Essa iniciativa correta do governo de Pernambuco também é preciso que ocorra em estados vizinhos, como o Maranhão. Lá [a cobrança antecipada do ICMS] não ocorre. [Desta forma, o importador traz etanol por Maranhão e penetra o produto por caminhões até Pernambuco].
Como a importação de anidro ocorre neste 2016?
Renato Cunha – A Petrobras e a Agência Nacional do Petróleo (ANP) fizeram uma permissividade, permitindo às distribuidoras trazerem gasolina e diesel importados. E, por tabela, elas também traziam etanol. Mas esse movimento tende a parar um pouco.
Mesmo com a facilidade de importar pelo Maranhão, onde não há ICMS antecipado?
Renato Cunha – Tenho a impressão que haverá alguma medida de suspensão em função do próprio mercado, que entenderá que a importação de anidro prejudica a produção nativa.
Como vai a safra 16/17 no Nordeste?
Renato Cunha – Saímos de uma moagem de 49 milhões de toneladas na safra 15/16 para 52 milhões de toneladas na atual temporada.
É uma boa notícia?
Renato Cunha – É uma recuperação natural. Chegamos a um ponto de inflexão muito grande na safra 15/16. Os números médios do Nordeste são de 62 a 65 milhões de toneladas. Então, operamos a 16/17 com 10 milhões de toneladas de cana a menos que a capacidade. O ponto de nivelamento no Nordeste é 70 milhões de toneladas.
Como chegar a isso?
Renato Cunha – É preciso previsibilidade das regras do jogo. Nos últimos oito a dez anos passamos por uma agenda muito deficitária para o etanol, e agora nos deparamos novamente com sinais de instabilidade na medida que o etanol hidratado é preterido na sua competitividade.
Por que isso ocorre?
Renato Cunha – Por conta da gasolina. A rigor, a Petrobras é uma empresa de energia, não apenas de derivados de petróleo. Então ela tem que procurar uma equação, por meio do governo federal, que incentive a produção equilibrada e que traga esse equilíbrio aos envolvidos na produção. Afinal de contas, [o etanol] é um agricluster imenso.
Comente mais sobre a safra
Renato Cunha – Pernambuco deverá esmagar 13,5 milhões de toneladas de cana. Alagoas sai de 11 milhões de toneladas para 15/16 para estimados 18 milhões de toneladas na safra em andamento. Só aí, há 31,5 milhões de toneladas. A moagem da Paraíba, Bahia, Maranhão ajudará a chegar às projetadas 52 milhões de toneladas.
Quantas unidades de Pernambuco moem na atual safra?
Renato Cunha – 15 unidades. Temos 18 instaladas.
Algumas dessas sem operação deverão participar da próxima safra?
Renato Cunha – Deveremos manter a participação de 15.
Como o sr. avalia o governo Temer para o setor sucroenergético?
Renato Cunha – O governo Temer tem capacidade para escutar. Isso é muito importante na medida em que haja esse tipo de humildade construtiva de ambas as partes. Contudo, há muitos ajustes a serem feitos na questão do hidratado em competitividade com a gasolina.
Qual sua sugestão imediata?
Renato Cunha – De forma imediata há a Cide [aumento da incidência desse tributo sobre a gasolina], que não é subsídio. É um tributo ambiental e pode aumentar esse colchão de competitividade. A Petrobras deu um sinal ao mercado [com a redução dos preços da gasolina e do diesel nas refinarias, em 14/10] que essa baixa ocorre em um momento em que o preço do petróleo volta a ascender um pouco. Mas esse vai e vem do mercado internacional é constante nos últimos anos. Por isso, temos que ter política mais construtiva e que contemple não só energias de petróleo, mas também as limpas.