A rotina em Campos dos Goytacazes, RJ, não é mais a mesma desde que a Coagro – Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro, em parceria com o MEC e a Secretaria Municipal de Educação, aderiu em 2013, ao Programa Brasil Alfabetizado (PBA), voltado para a alfabetização de jovens, adultos e idosos.
As aulas acontecem todas as segundas, terças e quartas feiras, a partir de 18h, na casa cedida pela Cooperativa, onde cerca de 10 alunos estão aprendendo a ler e escrever com a professora Naara Ortência da Silva. O projeto atende a funcionários da Cooperativa e familiares.
O apoio é tão intenso que além de oferecer lanches, um veículo é disponibilizado pela Coagro, para buscar os alunos em casa. “Enfrentamos as dificuldades e estamos superando juntos. Tive a chance de me tornar amiga de cada um deles e estamos construindo dia a dia, uma nova história”, afirma a professora que se desloca 40 quilômetros até chegar a escola.
Mas todo esforço vale a pena, para ter a chance de mudar um passado em parte desconhecido. O trabalhador rural, José de Oliveira, 55 anos, que desde jovem trabalha nas lavouras de cana, conta com orgulho que sai de casa todos os dias às 5h da manhã para trabalhar e ainda encontra disposição para frenquentar as aulas no final da tarde. Foi assim que aprendeu a segurar o lápis pela primeira vez e depois escrever o próprio nome.
E foi esse sonho de poder escrever o próprio nome, que o levou à sala de aula. “Antes, na hora de receber, eu usava meu dedo no papel como assinatura. Agora eu assino meu nome e também pude tirar meus documentos” conta com alegria o estudante.
Mas não é só José, que tinha o sonho de poder ler e escrever, sua irmã Josenilda de Oliveira, de 45 anos, também participa do projeto desde o ano passado. A aluna lembra que foi depois que começou a frequentar a escola, conseguiu unir as letras e formar as palavras. “Peguei a minha bíblia e consegui ler sozinha. Tive vontade de chorar, porque consegui sozinha. Agora também posso pegar o ônibus sozinha e saber para onde estou indo,” fala emocionada a aluna. Contribuiu para essas matéria, a assessoria de imprensa da Coagro.
Colaboradores conquistam sonho de ter habilitação
A Usina Santo Antônio, de Alagoas, também sabe que a educação é um dos princípios primordiais da vida e há três anos a empresa firmou uma parceria com o Sesi, através do EJA (Educação de Jovens e Adultos). A Usina montou a classe em suas dependências e ofereceu todo suporte inclusive para realização de eventos, passeios e fornece transporte e lanches nessas oportunidades. Dirigir é o grande sonho de milhares de brasileiros no país que muitas vezes manejam na ilegalidade por não saber ler e escrever. Mas a alfabetização mudou a realidade de vários colaboradores da Usina Santo Antônio. Entre eles o operador de máquinas, José Davi de Almeida, de 34 anos e o operador de carregadeira, Sandro da Silva, de 38 anos.
Com jeito tímido, aos poucos, Davi foi contando sua história de luta e superação. Por trabalhar na infância para ajudar a família, não teve oportunidade de seguir nos estudos mas guardou na memória o sonho de dirigir. “Hoje conquistei minha tão sonhada carteira de habilitação, mas se não fosse a oportunidade da Usina, isso talvez não seria possível. Muitas vezes achei que eu não seria capaz de aprender na vida adulta, mas consegui e estou muito feliz”, lembra.
Sandro da Silva, também está realizado com a carteira de habilitação. Também de família humilde do interior de Alagoas, se lembra da dificuldade de estudar na roça. No início da sua vida adulta foi cortador de cana, trabalhou na carpina e fez de tudo um pouco na lavoura, mas guardou no pensamento seu objetivo. “Eu não sabia ler nem escrever e me lembro que tentei tirar pela primeira vez minha carteira de habilitação há cinco anos, mas a falta de estudos me atrapalhou. Me sinto outra pessoa, muito motivado, feliz e não quero parar mais de estudar, agora vou até a faculdade”, revela.
A professora Beatriz Araujo fala com carinho dos alunos que tanto se esforçaram por seus objetivos. “Foi uma grande vitória. Estudam em média por cinco anos para se formar no fundamental, nas horas vagas”.
O projeto ainda ensina como manipular caixa eletrônico, pois era uma grande dificuldade dos estudantes. “A educação transformou a vida desses colaboradores, abriu horizontes. Nós percebemos no dia a dia, as mudanças na forma de se comunicar, de agir. Não temos apenas alunos, mas amigos”, afirma.