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Cenário mais positivo para as usinas do país

Usina sucroalcooleira na região de Ribeirão Preto (SP)
Usina sucroalcooleira na região de Ribeirão Preto (SP)

Há algumas safras com faturamento menor do que suas dívidas no país, o segmento sucroalcooleiro deverá obter, nesta e na próxima temporada, resultados capazes de reduzir o passivo. Conforme cálculos da Agroconsult, o horizonte mais positivo tornará possível uma redução de quase R$ 8 bilhões no endividamento total das usinas, atualmente estimado em R$ 85 bilhões. A conta leva em consideração um universo de 200 grupos em operação.

O cenário mudou para melhor com a alta das cotações internacionais do açúcar, decorrente das previsões de que o quadro global de oferta e demanda produzirá neste ciclo 2015/16 o primeiro déficit após cinco safras de superávit. E, fortalecida pelas interrupções da moagem de cana no Centro-Sul do Brasil por causa das chuvas, a conjuntura mais favorável à valorização do açúcar tem levado a reboque o etanol, cujos preços já estavam em alta por conta dos reajustes da gasolina e da demanda doméstica recorde neste ano.

Fabio Meneghin, analista da Agroconsult realça, finalmente, que o dólar mais forte em relação ao real também tem colaborado para melhorar a saúde financeira das usinas, uma vez que, ao menos nesta safra 2015/16, seus reflexos favoráveis para os preços estão sendo mais expressivos que os efeitos negativos sobre os custos de produção. Assim, com a ajuda do câmbio, o faturamento das usinas do país deverá somar, segundo a consultoria, R$ 82,2 bilhões no ciclo atual, quase 20% a mais que nas duas últimas temporadas.

Para chegar a esse montante, a Agroconsult considerou preços médios de R$ 55,22 para a saca de 50 quilos do açúcar vendido no mercado interno e de R$ 49,80 para a saca de açúcar bruto destinada à exportação. “Esse valor considera as vendas antecipadas de açúcar e as que já foram efetivadas”, explicou Meneghin. No caso do etanol, foram considerados preços médios de R$ 1,63 para o litro do anidro (misturado à gasolina) e de R$ 1,45 para o litro de hidratado (usado diretamente nos tanques).

arte07agr-101-usinas-b12A Agroconsult projetou para 2015/16 um custo operacional total de R$ 62,4 bilhões – incluindo as depreciações agrícola e industrial – e um retorno operacional de R$ 19,8 bilhões. Se confirmado, esse resultado (Ebit), que desconsidera custos financeiro, de hedge e imposto de renda, será o melhor do segmento sucroalcooleiro desde o ciclo 2002/03, de acordo com o analista.

Para a safra 2016/17, que começará em abril do próximo ano e terminará em março do seguinte, a Agroconsult estima que o faturamento das usinas do segmento alcançará R$ 90,9 bilhões. Além de uma moagem de cana no país 3% maior que a esperada em 2015/16 – de 680 milhões de toneladas -, a projeção para 2016/17 considera preços mais elevados que nesta safra para o açúcar de mercado interno (5,2%), para o açúcar de exportação (4,09%), para o etanol anidro (6,13%) e para o hidratado (5,5%).

Sob o impacto do dólar mais alto, o custo operacional da próxima safra, conforme Meneghin, tende a ser 14% mais elevado que em 2015/16 e atingir R$ 71,3 milhões. Com isso, e apesar da receita maior, o resultado operacional das usinas do país em 2016/17 foi projetado em R$ 19,6 bilhões.

É a partir da soma dos resultados operacionais das duas safras, que chega a R$ 39,4 bilhões, que a Agroconsult prevê o potencial de amortização das dívidas das usinas brasileiras. Dois cenários foram projetados. No primeiro, as usinas destinariam 20% do resultado para quitar o principal da dívida – R$ 7,9 bilhões, que proporcionariam uma redução do endividamento de R$ 85 bilhões para R$ 77,1 bilhões. Nesse caso, o endividamento relativo, atualmente em R$ 135 por tonelada de cana, cairia para R$ 114.

O outro cenário considera o uso de 10% do resultado para quitar dívidas – R$ 3,9 bilhões, que reduziriam o principal para R$ 81,1 bilhões, ou o equivalente a R$ 120 por tonelada de cana. O primeiro cenário, segundo Meneghin, já levaria o endividamento relativo do segmento a níveis “toleráveis” pelo mercado, apesar de o “desejável” ser de R$ 70 a R$ 80 por tonelada. A perspectiva de melhora, conforme o analista, pode inclusive melhorar o acesso das usinas a crédito.

Fonte: (Valor)

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